Na esfera da espionagem e inteligência, a linha entre realidade e ficção pode ser surpreendentemente tênue. Além disso, histórias que parecem saídas diretamente de filmes de espionagem ou ficção científica muitas vezes têm raízes na realidade, revelando aspectos ocultos e intrigantes das operações de inteligência governamentais. Um exemplo notável dessa fusão entre a realidade e o reino da fantasia é o Projeto Stargate, uma iniciativa da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) durante a Guerra Fria. Este projeto, que soa como se fosse tirado de um roteiro de Hollywood, tinha o objetivo de explorar e potencializar habilidades sobrenaturais para fins de espionagem e segurança nacional.
Ao mergulhar na história do Projeto Stargate, descortina-se um capítulo fascinante e por vezes controverso da pesquisa governamental. Este esforço buscava não apenas compreender, mas também utilizar fenômenos paranormais, como telepatia, clarividência e previsão do futuro, em um contexto de rivalidade internacional intensa. Então, a realidade dessa busca por poderes extrassensoriais, ao lado das implicações éticas, científicas e políticas que a acompanham, revela um aspecto pouco conhecido das operações de inteligência e das fronteiras entre o conhecimento científico e o mundo dos fenômenos inexplicados.
Imagine habilidades como prever o futuro, telepatia, clarividência e controle mental integradas em um esquadrão militar. Parece um roteiro de filme de super-heróis, certo?
Porém, o que parece ficção era um plano real da CIA nos anos 70, como parte do Projeto Stargate, conforme revelam documentos da agência. Em uma dessas missões, em 1977, a CIA procurou entender o que os soviéticos construíam em um armazém detectado por satélites no norte da União Soviética.
Foi então que Joseph McMoneagle, um recruta destacado do Projeto Stargate com habilidades de “visão remota”, foi chamado. Ao analisar uma fotografia do local, ele alegou que um submarino estava sendo construído, apesar da distância considerável do local até a água. Intrigantemente, um submarino foi de fato lançado daquele local quatro meses depois. McMoneagle participou de mais de 450 missões, incluindo localizar reféns no Irã e identificar um dispositivo de espionagem na África do Sul.
Annie Jacobsen, em seu livro “Phenomena: The Secret History of the Government Investigations on Perception Extrasensory and Psychokinesis”, menciona que a CIA estava interessada em usar as habilidades de Geller para “projeção da mente” visando a segurança nacional.
Processo de Recrutamento
Com a colaboração de cientistas da Universidade de Stanford, o governo dos EUA conduziu testes por duas décadas, com um investimento total de 20 milhões de dólares. Liderados por Russell Targ e Harold Puthoff, os testes inicialmente envolviam adivinhação de cartas de baralho. Uri Geller, um ocultista famoso por afirmar ter habilidades paranormais, foi um dos testados em 1973.
Funcionamento do Projeto
O Projeto Stargate passou por várias fases e codinomes – GONDOLA WISH, GRILL CHAME, CENTRE LANE, SUN STREAK, SCANATE – antes de adotar seu nome definitivo em 1991. O foco era a visualização remota, que pretendia permitir a visão de objetos, pessoas ou lugares a distâncias consideráveis, incluindo até mesmo outros planetas.
Ingo Swann, um membro notável do projeto, alegou ter visualizado características de Saturno antes de sua descoberta pela NASA. Outros participantes relataram localizar reféns e criminosos. Contudo, a eficácia dessas visualizações era variável, e a CIA recomendava usá-las em conjunto com outras fontes de informação.
Divulgação e Encerramento do Projeto
Em 2017, após pressões por transparência, a CIA liberou 13 milhões de documentos secretos, incluindo informações sobre o Projeto Stargate. Estes documentos detalhavam termos usados pelo projeto, como “ação psicoenergética”. O programa foi descontinuado em 1995, com a divulgação de suas atividades e o fim do governo Clinton.
A revelação dessas iniciativas durante a Guerra Fria provocou grande interesse público, destacando um capítulo surpreendente na história dos esforços paranormais do governo dos EUA.
A saga do Projeto Stargate revela a fina linha entre ficção e realidade na geopolítica da Guerra Fria. O uso de habilidades paranormais para fins de inteligência, embora encerrado, destaca os extremos explorados durante esse período tenso. Os documentos revelados e o encerramento do projeto continuam a alimentar debates sobre ética, conhecimento humano e o papel da inteligência na segurança nacional.